sexta-feira, 27 de abril de 2012

Eurovisão: a caminho de Baku 2012! (XXII)

E eis que finalmente chego ao meu último comentário sobre os países que vão participar na edição deste ano da Eurovisão. Deixei a Espanha para o fim, não porque optei por deixar o melhor para o fim: antes pelo contrário!



Espanha e Pastora Soler
E eis que finalmente falo do nosso único vizinho, tanto geograficamente como, obviamente, na Eurovisão. Portugal é o país que mais votos lhe tem dado e, depois do interregno entre 2005 e 2009, esta vergonhosa tendência veio para ficar, mesmo que Portugal continue a receber meras "migalhas" deste país. Aliás, analisando os votos desde 1975 até 2011, Portugal nem sequer está entre os 5 países a quem Espanha deu mais votos.
Mas claro que o complexo de inferioridade que os portugueses parecem ter em relação a Espanha, derruba qualquer um destes argumentos.

É óbvio que pode ser usado o argumento de que Portugal não é o único que faz voto político na Eurovisão. Isso de facto é verdade: mas o que também é verdade é que Portugal é o único que não sabe fazer voto político.
Existem casos muito semelhantes ao português, de países que constantemente atribuem ou 12 pontos, ou lá perto, ao mesmo país. Estou a falar do tão afamado caso do Chipre, que parece que a partir de 1996 reservou os seus 12 pontos para a Grécia, e do caso da Moldávia, que sempre deu os seus 12 pontos à Roménia, e a Arménia que os pontos mais baixos que deu à Rússia foram 8 pontos o ano passado. Mas agora analisemos a contrapartida. Sempre que a Grécia vota na mesma semifinal que o Chipre, e sempre que o Chipre vai à final, é mais que certo que a Grécia vai-lhe retribuir os 12 pontos (como aliás deve acontecer agora em 2012). Apenas em 2008 e em 2010 a Roménia atribuiu menos do que 12 pontos à Moldávia (em ambos os casos 10), e apesar de a Arménia não ter ficado sempre no TOP3 dos votos da Rússia, é deste país que a Arménia tem recebido mais pontos.
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo de Espanha em comparação com Portugal.

Convém aqui referir o percurso tão peculiar que a Espanha tem feito na Eurovisão, fora das suas actuações. Se há país que tem aproveitado o seu estatuto de membro do BIGFive para fazer o que bem lhe apetece, sem dar a mínima importância a qualquer violação das regras, esse país é sem dúvida a Espanha.
Recuemos até 2009. Mesmo estando directamente na final, todos os membros do então BIGFour são obrigados a transmitir em directo pelo menos uma semifinal, e a votar nela. Todo o processo de afectação de cada participante e cada votante para as duas semifinais é feito no início do próprio ano em que decorre o Festival, para evitar qualquer constrangimento ou imprevisto.
Pois bem, ficou definido na altura que a Espanha iria votar na primeira semifinal, onde participavam Portugal e Andorra.
No entanto, por razões que só esse país sabe, muito mais tarde acabaria por trocar a sua votação para a outra semifinal em virtude de transmitir um documentário sobre a Eurovisão (que não era em directo, mas que tinha que ser "obrigatoriamente" transmitido à hora da primeira semifinal!!!!). Por isso, logicamente que teria que transmitir em directo e votar na segunda semifinal. Acontece que a emissora espanhola responsável pela transmissão da Eurovisão já tinha agendada HÁ MUITO TEMPO, a transmissão em directo o torneio de ténis "Madrid Open". Assim, a segunda semifinal foi transmitida com um delay de 66 minutos, existindo apenas a votação do júri.

Um porta-voz da comitiva de Andorra veio logo dizer que tudo isto não passou de uma estratégia da Espanha para evitar que o país atribuísse pontos tanto a Portugal e a Andorra, e assim talvez não conseguissem passar à final e assim seriam menos dois obstáculos ao sucesso da música Espanhola. E disse que não precisava dos 12 pontos de Espanha para passar à final. E de facto acertou: mesmo que Espanha lhe tivesse entregue os 12 pontos, Andorra não conseguia passar à final.

É verdade que isto pode parecer uma "mania da perseguição" por parte de Andorra e até de Portugal, cuja comitiva também protestou contra estas decisões e contra-decisões de Espanha. Mas a verdade, é que até hoje a Espanha não apresentou nenhuma razão que justificasse a sua atitude.
Felizmente que na final desse ano, houve um boicote quase total por parte dos júris internacionais à música espanhola (que da parte dos júris arrecadou apenas o 25º lugar com 9 pontos), como protesto face ao comportamento da Espanha. Felizmente que o júri português participou no protesto, o que impediu que Portugal desse mais do que 7 pontos à Espanha. Aliás, também se sentiu um pouco no televoto, pois apenas em Portugal, a canção espanhola foi a mais votada. É verdade: apesar de Andorra ter dado os 12 pontos a Espanha, isso foi graças também ao júri (que provavelmente teria alguns espanhóis como membros do júri, e talvez até portugueses - sim porque neste tipo de concursos, a maior parte dos portugueses preocupa-se em primeiro,e por vezes único, lugar com o sucesso de Espanha), porque os 12 pontos do televoto foram para... Portugal (que não sendo pontuado pelos membros do júri, acabaria por receber apenas 6 pontos).

No dia seguinte à final de 2009, foi publicado no jornal "El Mundo" que a RTVE (a emissora espanhola que transmite a Eurovisão), arranjou estes problemas e este atraso na transmissão da segunda semifinal de propósito, para evitar que a Espanha ganhasse pois, não teria capacidade para sediar a edição de 2010 em Espanha. Bem... tanta humildade e falta de presunção... deixou-me por momentos sem palavras. Estamos perante um caso único que merece ser um marco da História da Eurovisão: um país que antes de começar o concurso tem a certeza que vai ganhar e faz tudo para impedir que tal aconteça.

Isso provou que, Portugal foi o único país que se comportou nesse ano como uma criança ingénua. E continua a comportar-se ao ter atribuído em 2010 e 2011, os seus 12 pontos a Espanha.

Por mais que eu não tivesse gostado da participação dos Homens da Luta na Eurovisão, eles estiveram longe de ser o momento mais vergonhoso da participação portuguesa na edição de 2011 deste festival. O momento mais vergonhoso foi durante a votação portuguesa quando a Joana Teles, depois de ter anunciado os 10 pontos para a Itália, se ouvir por toda a arena o nome de Espanha, a comprovar a previsibilidade da votação espanhola. Mais do que apresentar más escolhas musicais, a pior coisa que pode acontecer a um país a tornar-se previsível: perde qualquer interesse.
Além disso, existem países que até atribuem alguns pontos a Portugal, mesmo sem contar com a diáspora, como o caso da Islândia - ou até mesmo os países que nos dão muitos votos pela diáspora -  que poderiam muito bem ser muito mais pontuados por Portugal, do que Espanha.

Este ano, ainda durante o mês de Março, já a Espanha tinha aprontado das suas. Ainda a música sueca não tinha ganho o Melodifestivalen, e já tinha sido usada em Espanha num anúncio de promoção a uma nova temporada da Série Gossip Girl. Obviamente que isso é uma grave violação das regras sobre a utilização de músicas que se encontram em algum concurso, e que obviamente não podem ser utilizadas fora do contexto do programa.

A última vez que li alguma coisa sobre esse assunto, a Suécia estava a pensar mover uma acção contra a Telecinco. De facto, talvez o hábito de usar e abusar de Portugal a seu belo-prazer tenha feito que a Espanha julgasse que pudesse fazer o que quisesse seja com que país fosse.

Quanto à música deste ano, é sem dúvida melhor do que as que o país levou anteriormente ao festival (se bem que já não me lembro do último ano em que a Espanha levou uma música minimamente aceitável à Eurovisão - deve ter sido antes de ter nascido), com uma cantora com uma voz sólida e razoavelmente potente, e desta vez está mais perto do que nunca de merecer os 12 pontos de Portugal.

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