quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Crise Financeira Internacional (I)

E após a ausência para as mais que merecidas férias, começo aqui uma série de mensagens em que farei uma profunda análise sobre a actual crise económica e financeira que, rapidamente se tornou numa crise social, de valores, e já se tornou em alguns países também numa crise política, em que o velho paradigma Ocidental está a ser posto em causa, como não acontecia desde a Grande Depressão. Por isso mesmo, é necessário saber porque a Humanidade tem de lidar ciclicamente com as crises que, apesar de todos os progressos e avanços feitos, continuam a ser inevitáveis e a provocar, como no caso actual, efeitos devastadores.

Será que a actual crise financeira global vai acabar por "afogar" o sistema capitalista?
 - Sociedade Humana e crises:

Aproveitando o que diz Santiago Becerra no seu livro "O Crash de 2010" (que foi editado pela primeira vez em Outubro de... 2009) actualmente, com a ajuda dos meios de comunicação social, as pessoas acreditam piamente que esta actual crise se deve apenas aos caprichos, e sobretudo à insensatez, de uns quantos magnatas e umas quantas elites financeiras, que conseguiram com os seus "esquemas" provocar uma crise que afectou milhões de pessoas em todo o mundo, que nada tinham que ver com esses assuntos.
Isso não deixa de ser verdade, e abordarei a questão dos agentes que provocaram esta crise mais adiante. No entanto, a componente cíclica associada por muitos pensadores à actividade económica, tem o seu peso nesta questão.
Como Becerra refere, tudo começou há mais de 10 mil anos quando,na região da Mesopotâmia - no chamado Crescente Fértil - o homem trocou o nomadismo pelo sedentarismo, ao perceber que era capaz de produzir os alimentos que antes esperava que a Mãe-Natureza lhe fornecesse, e que conseguia domesticar alguns animais, para os usar para aumento do seu bem-estar.
Desde o estabelecimento das primeiras sociedade humanas, que os períodos de fartura foram sucedidos por épocas de escassez e falta de recursos.
A evolução e complexificação das sociedades, desde as civilizações Egípcia e Mesopotâmica, aos Impérios Soviético e Norte-Americano, transformaram o valor ou riqueza produzidos pelas sociedades. À medida que as sociedades evoluíram, estas começaram a gerar mais valor económico e necessariamente, a consumir mais recursos. Por isso mesmo, quanto mais complexas as sociedades se tornavam, mais graves e nefastas eram as crises económicas.
Analisando a História da Sociedade Humana, podemos ver as crises económicas como algo cíclico e que, por muito que nos custe, temos que lidar com isso. No entanto, desde a Revolução Industrial, algo mudou na maneira como se desencadeiam as crises. Até essa altura, as crises eram provocadas por motivos alheios à mão do homem, mais propriamente causados pela Mãe-Natureza: cheias, secas, pragas, tempestades e outras catástrofes, eram os únicos grandes responsáveis pelas crises que ocorreram no passado.
No entanto, algo mudou nos factores que provocaram as crises: e o crash de 1929 é o exemplo disso.

O Congresso de Viena por Jean-Baptiste Isabey, 1819
Mas antes vou continuar a análise histórica do passado recente da História Económica, e da sua relação com as crises. Desde 1789, com o arranque da Revolução Industrial que uma nova ordem económica global se começou a impor. E em 1815, com a Conferência de Viena, essa ordem impôs-se definitivamente no sistema-mundo, com o nome de capitalismo.
Olhando para os sistemas económicos anteriores, é fácil constatar que todos duraram cerca de 250 anos, foram marcados por várias crises, e terminaram com uma espécie de "super-crise" que arrasou completamente os fundamentos do sistema económico em vigor.
A actual crise, não é vista por muitos autores (incluindo Santiago Becerra) como uma dessas "super-crises", mas antes de uma crise sistémica ou seja, uma crise que abala a base do sistema económico - além disso, convém referir que não passaram 250 anos desde a Conferência de Viena - .


Claro que esta crise parece demasiado grave para ser apenas uma crise sistémica, mas convém não esquecer que, principalmente nos países ocidentais, a população em média tem um nível de vida muito superior ao da generalidade da população aquando das primeiras crises sistémicas do sistema capitalista. Para não falar da estrutura de consumo e da ocupação profissional que divergem significativamente dessa altura.

Na actualidade é no sector terciário que se encontram as actividades mais dinâmicas nos países desenvolvidos


Na actualidade, o sector dominante é o sector terciário, que produz bens imateriais e intangíveis, cada vez em maior quantidade, e que tem permitido o enriquecimento das sociedades. Obviamente que o contributo do sector terciário para o enriquecimento das actuais sociedades, deve-se não só ao aumento da produtividade, como também à actuação de um subsector que permite a vinculação entre produção, consumo, rendimentos e endividamento. Este subsector. claro está, é o subsector financeiro, que afecta todos os aspectos da actividade económica e do dia-a-dia das populações: financia o investimento e o consumo, permite movimentações entre todas as partes do mundo, serve de medidor de risco, e tanto pode beneficiar cada ser humano, como colocá-lo com uma "corda ao pescoço". Neste sistema económico globalizado, o subsector financeiro penetrou em todos os países, repercutindo-se fortemente no mundo real.

Claro que o que referi para cada indivíduo, também se aplica para toda a economia e para o próprio país: todo este poder do subsector financeiro, tanto pode desenvolver ainda mais a economia e o país, como condená-lo à ruína. Actualmente, o melhor exemplo disso, infelizmente pelo lado negativo, é a Irlanda. E será precisamente a partir da análise do caso irlandês, que irei continuar a abordar este tema na próxima mensagem.

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