Acabei de ler recentemente o mais recente livro de José Rodrigues dos Santos. Apesar de tudo, já antes de começar a ler sabia que seria um livro polémico na área da religião.
Confesso que não fiquei tão surpreendido como a Inspectora Valentina Ferro quando ouviu aqueles 'verdades inconvenientes' mas que estavam cientificamente comprovadas, da boca do já famoso historiador e criptalista Tomás de Noronha (haja alguém que revitalize o papel dos portugueses no mundo!!!).
De todas as que naquela altura ouvi, a que me chamou mais atenção foi a ligada ao livro dos Génesis. A bíblia não pode ser lida como um livro de História que relata como um manual tudo o que aconteceu na terra desde a sua criação. Obviamente que por isso, não se pode fazer uma leitura literal da bíblia. Segundo a tradição, foi Moisés o autor do livro dos Génesis, apesar de actualmente haver correntes que, fruto das investigações históricas, afirmam que o livro compila textos de outros autores.Já conhecia muitas daquelas verdades, tanto sobre a bíblia como sobre a pessoa de Jesus (e sua família). E não foi por ter lido o 'Código da Vinci' ou outro livro afim. Ouvi essas histórias e teorias alternativas à que é apresentada oficialmente pela Igreja, de pessoas ligadas à Igreja Católica.
Apesar de a Bíblia não ser um manual de História, temos que perceber o contexto histórico do povo judeu, na época em que se julga que o livro foi escrito. No caso do livro dos Génesis, a tradição aponta para que este livro tenha sido escrito quando o povo judeu estava no exílio. O livro deverá ter sido escrito quando o povo judeu estava exilado no Egipto, excepto a parte final que deve ter sido escrita durante o exílio na Pérsia.
Ora, nenhum destas nações na altura praticava uma religião monoteísta (pelo menos não era a religião do Estado). Alertados pelo facto de os judeus estarem cada vez mais a esquecer a essência da sua religião e a incorporarem no seu dia-a-dia as práticas das religiões dos povos onde estavam exilados (sobretudo no que toca a magia e rituais), os 'autores' do livro do Génesis apresentaram um livro em que mostravam Deus dos Judeus, a criar tudo a partir do nada, para provarem que Yavé era superior a todos os deuses egípcios e persas.
Começo por falar num assunto que não é abordado na bíblia, precisamente para apresentar algo que este livro dos Génesis possui e que serve como mais um fundamento para quem defende a ideia da Santíssima Trindade. Não aparece logo no início deste livro "Disse Deus: façamos..." (a luz, as trevas, os astros, a água, os animais e por aí fora...) e depois "Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança"?
A ideia que nós temos da criação bíblica é vermos Deus-Pai, um senhor de muita idade e com longos cabelos e barbas a criar tudo (quase sempre só com o toque do seu dedo). A mim, nestas frases parece-me que ele está a falar com mais alguém, ou seja, ele não estava lá sozinho quando criou os céus e a terra. Portanto das duas uma: ou Deus-Pai teria algum amigo imaginário ou aqui está uma prova que a ideia da Santíssima Trindade está presente na Bíblia desde o início do Antigo Testamento. Ou seja, Deus-Pai estaria a falar com o Filho e o Espírito Santo: quando Deus disse "Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança..." estaria a criar o Homem fisicamente semelhante ao Pai e ao Filho e com um espírito diferente de todos os outros seres vivos e em certa medida semelhante ao do Espírito Santo.
No entanto, o que me deixa mais surpreendido em todas as revelações 'bombásticas' do livro de José Rodrigues dos Santos, é o choque com que a inspectora Italiana parece receber a notícia de que Jesus não era cristão. Se para os cristãos a sua religião nasceu aos pés da cruz e na alegria do túmulo vazio na manhã de Páscoa, e se tudo indica que os pais de Jesus seriam judeus, porque não haveria Jesus de nascer judeu e ser judeu até à sua morte? Ainda seria aceitável a ideia ridícula de que ele se tivesse tornado cristão em adulto (antes de ser crucificado), mas como seria possível acreditar na ideia de que Jesus tivesse nascido praticante de uma religião que só depois de crescer é teria capacidades físicas, intelectuais e espirituais para fundar?
Assim como Maomé também não nasceu muçulmano, nem Buda (o mestre religioso, e não o grupo de iluminados que alcançaram a razão espiritual) nasceu budista.
Se Jesus não tivesse sido Judeu até à sua morte na cruz, a Bíblia não teria o Antigo Testamento (sinal da sua herança judaica) só para ser durante muitos séculos o maior livro do mundo.
Nenhuma Igreja cristã pode cometer o erro de dizer que durante a sua vida terrena Jesus era cristão e não judeu.
Quanto às práticas judaicas abandonadas pelos cristãos poucas décadas depois da morte de Jesus, apesar do cristianismo ser inicialmente uma seita dentro do judaísmo, mais cedo ou mais tarde as diferenças iriam obrigar os judeus-cristãos a se separarem dos outros judeus. Sendo o judaísmo uma herança de onde surgiu outra religião diferente, nada obriga que todos os preceitos dessa religião sejam cumpridos.
Outra coisa que é necessário entender do livro, é a separação entre aquilo que o ser humano pode entender com a razão e a inteligência e aquilo que está no domínio da fé. Se o Homem pudesse colocar toda a dimensão religiosa na sua compreensão e se pudesse comprovar empiricamente tudo o que qualquer religião afirma, a religião seria uma ciência.
Já lá vai o tempo em que as pessoas eram praticamente obrigadas a ter uma religião. As verdades da fé estão disponíveis para quem quer acreditar, e isso implica acreditar mesmo sem ter a prova de que tal seja verdade. Quem não quiser acreditar... segue a sua vida.
Atrás referi que a Igreja católica nasceu aos pés da cruz e na alegria do túmulo vazio na manhã de Páscoa ou seja, nasceu com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Isso é a essência da fé cristã e o suficiente para a existência do cristianismo.
Se Jesus afinal não estava a escrever no chão quando desistiram de apedrejar Maria Madalena, se ela nem sequer era prostituta, ou se Jesus fez não fez nenhum milagre a A mas fez a B, ou se não leu na sinagoga de Nazaré, ou se não destruiu as bancas dos vendedores no templo de Jerusalém, ou se não nasceu no dia 25 de Dezembro em Belém (o que e relação à data não ser 25 de Dezembro já eu sabia desde pequeno e a Igreja católica já o reconhece há muito, e a propósito Jesus nasceu cerca de 6 anos antes do ano que lhe é atribuído, daí aquelas incongruências quanto ao facto de um Evangelista falar de Quirino e outro de Herodes que pelos vistos os seus governos não foram contemporâneos), ou se os Evangelistas afinal não se chamavam Mateus, Marcos, Lucas e João, TUDO ISSO não é essencial para se perceber e acreditar na essência da fé cristã.
E se fossem agora descobertas provas irrefutáveis de que Jesus foi casado e teve filhos? Isso impedia-o de morrer na cruz e ressuscitar? O cristianismo não defende que Jesus ao nascer se tornou um ser humano como todos nós (mas sem deixar de se Deus)? O casamento e os filhos só viriam reforçar a humanidade de Jesus e não poderiam por em causa a sua condição de Filho de Deus.
E surge-me também uma pergunta oportuna. Se são apresentadas provas de que muitas das acções e palavras de Jesus podem não ser verdade, porque não há nenhum texto sobre Jesus escrito imediatamente após a sua morte, e ninguém que escreveu sobre ele (nomeadamente os Evangelistas autores dos Evangelhos canónicos) conheceu-o pessoalmente, então porque acreditar nas razões apresentadas por Tomás de Noronha para que Jesus discriminasse as pessoas e que fosse um judeu extremista e radical apenas baseado no que aparece na Bíblia?
Para não falar na História dos Evangelhos apócrifos. E aqui faço mais um desvio ao que o livro fala, para falar no 'Evangelho de Judas' que parece que foi encontrado por um pastor que andava à procura de uma cabra perdida (há coincidências mesmo incríveis!!!!) numa gruta em Nag Hammadi. Nunca li o Evangelho mas no documentário que vi, a ideia que o Evangelho transmite uma ideia de Judas diferente da que a Igreja Católica (também nunca percebi porque só usam a Igreja Católica como alvo de crítica,
quando existem outras Igrejas Cristãs e uma delas, a Ortodoxa, só se separou da Católica aquando do cisma) sempre apresento, de um ser desprezível e eternamente odiado até à morte. O Evangelho dá um protagonismo diferente a Judas, e apresenta-o quase como um Herói pois sem ele não era possível a crucificação de Jesus que, por mais dolorosa, triste e injusta que foi, era necessária para que todo o mundo conhecesse a salvação que Deus na pessoa de Jesus veio trazer.
De facto, apesar de duvidar que a imagem negativa que pelo menos existe no Ocidente em relação a Judas possa mudar (pelo menos nos próximos séculos) a verdade é que Judas Iscariotes foi o protagonista de um 'mal necessário' e sem a acção dele Jesus Cristo não teria morrido e ressuscitado e assim ter nascido o cristianismo. Talvez estivesse no sítio errado à hora errada, mas a verdade é que apesar do seu mau papel na História acabou por ser fundamental para o nascimento da maior religião do mundo.
E quanto aos outros Evangelhos Apócrifos que apresentam Jesus em criança a fazer milagres para exibir às outras crianças, ou a fazer e dizer outras coisas que parecem contrárias ao que a Igreja ensina, se as que constam na Bíblia podem ser falsas devido à data tardia em que foram escritas, a erros de tradução ou a falsificações, então o que consta nos Evangelhos Apócrifos tem as mesmas probabilidades de estar errado.
Ainda haveria muito a contar, mas receio que ninguém chegue vivo ao final deste post!
Quanto às outras matérias polémicas, do que fica por falar, mais uma vez repito que muito só pode ser aceite pela fé, e não pode ser comprovado pela ciência.
E quanto ao resto do livro, para além dos homicídios, só há acção quase no final. Depois de tantas páginas lidas, achei que o final foi demasiado simples e o desenlace dá-se de forma abrupta.
De resto, é um livro interessante que dá o seu ponto de vista o que (pelo menos por enquanto) ainda nada nos impede de o fazer.
Os meus parabéns ao autor.
E se querem ler mesmo um livro mesmo polémico que apresenta o lado negro do cristianismo e da Igreja Católica não só no que vem na Bíblia e na sua tradição, como também nas suas práticas actuais, e até apresenta os actuais descendentes de Cristo, leiam "O Diário Secreto de Da Vinci".
Certamente também irei fazer um post sobre este livro num futuro mais próximo!!!
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