Eis uma óptima maneira de cumprimentar a Alemanha, depois do que lhe aconteceu na passada 4º-feira dia 18: este gigante económico, sobre o qual todos os defensores do projecto europeu depositavam as suas esperanças, viu o seu rating da dívida descer de 'AA' para 'AA-'.
Desta vez não foi a Standard & Poor's (que bem precisa de uns diazinhos de descanso), nem qualquer das outras agências mais conhecidas.
Este feito tão... inesperado, é obra da mesma agência que no verão passado tomou a iniciativa de fazer o que há quase 100 anos não acontecia: descer o rating da dívida dos EUA, deixando de ficar na cotação mais alta. Estou a falar da "Egan-Jones".
É uma agência de facto pouco conhecida e, ao contrário da S&P, da Moddy's ou da Fitch, não é financiada pelas empresas ou entidades a quem ela atribui um rating, mas tem antes financiadores institucionais.
Apesar da pouca fama entre nós, a verdade é que esta agência não tem feito por isso, visto que ao longo da sua história tem feito vários cortes polémicos mas certeiros, pois acaba por antever aquilo que se acabaria por passar com essas entidades a quem desceu o rating. Para além da dívida dos Estados Unidos, podemos juntar o alerta que fez sobre o perigo de insolvência da Lehman Brothers e a crise da 'Dot.com' ocorrida há sensivelmente 10 anos.
Claro que tal descida não foi inconsciente. O argumento utilizado foi o facto de, sendo a Alemanha actualmente o único grande pilar da União Europeia, os seus contribuintes serão os que mais suportarão (ou seja, serão chamados a contribuir com mais para o Fundo Europeu de Estabilização Europeu, o Mecanismo de Estabilização Europeu, o Banco Central Europeu e, indirectamente, o Fundo Monetário Internacional) os custos da actual crise da dívida que alastra pela Europa. De facto, a possível necessidade de apoio à Itália ou à Espanha, está longe de ter os mesmos custos que a ajuda prestada à Grécia ou a Portugal. No 1º caso estamos a falar de economias de maior dimensão, e a Itália mais concretamente, é um dos países fundadores da Comunidade europeia, e a 3ª economia da zona euro.
A mim não me preocupa nada que os contribuintes alemães tenham que suportar mais encargos pelas crises dos outros. Ou melhor: até me importo com os contribuintes comuns que não têm culpa alguma dos enredos que se passam com a sua classe política. Mas se é verdade que tudo o que acontece de bom na União Europeia tem muitas vezes a "mão" da Alemanha por trás, o mesmo se passa com as coisas más. Não digo que a Alemanha seja a principal responsável pelo início da crise na Grécia (que alastrou a outros países pelo célebre "efeito contágio"), mas certamente que a Alemanha teve muito mais culpa do que a Grécia, pelo Estado a que o país chegou. E a juntar a Alemanha está a França.
A ideia que estes países transmitem é a de que, um dia fomos todos dormir e estava tudo bem com a Grécia, e na manhã seguinte ela já estava naquele pandemónio que nós vimos nos meios de comunicação social. Nenhum país por mais mal governado que seja, seja àquele extremo assim do nada.
A Alemanha (e a França) continua a dar a ideia de que ficou sinceramente surpreendida com o que se está a passar nos países cuja dívida está numa fase preocupante.
No caso da Grécia, acredito que ela nunca devia ter aderido ao Euro, pois sempre teve problemas estruturais muito graves. Tanto a Grécia como Portugal e outros países periféricos aderiram ao Euro, impelidos pela Alemanha.
Se a Alemanha teve grande responsabilidade no começar desta crise porque não quis ler os sinais a tempo, porque não há-de ser ela agora a pagar mais por isso?
E a verdade é que a Alemanha, por maior e mais rica que seja, não terá capacidade para suportar a ajuda a tantos países europeus.
Além disso, a situação da dívida pública alemã está longe da saúde que tinha noutros tempos: actualmente já representa mais de 90% do PIB e prevê-se que em 2013 ultrapasse os 100%. Também o crescimento voltou a ser revisto em baixa, e a actual previsão para este ano é que a economia alemã apenas vai crescer 0.7%.
Mas também convenhamos: o objectivo da União Europeia e de muitas das suas ajudas não é harmonizar vários indicadores entre os estados-membros? Pois bem, parece que também no rating da dívida, todos os países estão a convergir para classificações muito baixas.
Será que ainda vamos ver aqui as outras peças deste jogo de dominó?
E agora? Agora esperamos para ver como vão reagir as outras agências de rating (nomeadamente as três mais conhecidas) a este corte da dívida alemã, e esperamos para ver se os líderes europeus vão manter as suas posições sobre a concertação a nível europeu em áreas como a dívida pública, os défices e as finanças públicas em geral.
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