quinta-feira, 26 de abril de 2012

25 de Abril de 1974: 28 anos depois!

Bem, mais um ano que se passou, e estamos nós novamente a celebrar uma coisa que para mim, neste momento em Portugal só existe em teoria: a Democracia!

É a primeira vez que se assinala esta data, desde que existe este blogue. Por isso, ao fazer a minha análise dos 38 anos, vou antes descrever muito sucintamente o que se passou nesse dia tão "especial" da História Contemporânea Portuguesa.


1974: A madrugada de 25 de Abril
A História é sobejamente conhecida (ou pelo menos devia ser!!!!). Foi na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 que as forças armadas, rapidamente apoiadas pela população civil, desencadearam uma revolução para derrubar um dos regimes ditatoriais mais longos da Europa Contemporânea.
Não houve mortes nem as típicas destruições que associamos às quedas de regimes políticos, e que enchem as páginas dos jornais e abrem os noticiários quase diariamente.

Há apenas dois símbolos associados a esta revolução: as músicas "E depois do Adeus" de Paulo de Carvalho, ainda às 22h55 de dia 24, que soou na rádio "Emissores Associados de Lisboa" e "Grândola Vila Morena" de Grândola Morena, já às 0h20 do dia 25 no programa "Limite", e que serviram de código para os soldados fiéis à revolução espalhados por vários quartéis ao longo do país, poderem avançar, e o cravo, que foi uma ideia espontânea mas que foi distribuída a todos os soldados para colocarem nas suas espingardas - cravos em vez de balas.
O Quartel-General da Região de Lisboa no Largo do Carmo, tornou-se o centro de toda a revolução.
Também o aeroporto e outras vias principais de comunicação (incluindo as linhas telefónicas), foram estrategicamente tomadas pelas forças revoltosas.
O controlo das emissoras televisivas permitiram que logo às 4h26 da manhã o MFA anunciasse o triunfo da revolução pela RDP.

De facto, tudo não passou de estratégias militares. O regime caiu rapidamente.

O antes e o depois
Depois da desilusão da primavera marcelista que afinal se revelou um verdadeiro prolongamento do inverno salazarista, a depois apelidada de revolução dos cravos, foi festejada efusivamente por todo o país. O povo acreditava que todos os seus problemas iriam acabar:
- abolição da censura e do controlo da liberdade de expressão;
- resolução do problema colonial;
- extinção da PIDE e de todas as formas de repressão política;
- implementação de um regime democrático a exemplo da maioria dos países da Europa Ocidental;

Todo o povo pretendia que as suas reivindicações fossem atendidas.
De facto, os governos que se foram sucedendo ao longo da Democracia Moderna em Portugal, em nada se assemelharam ao regime do Estado Novo: tinham prioridades e formas de governar completamente diferentes.
Nesta altura foi criado algo que antes não existia: o Estado Social. Todos os governos democráticos conseguiram disponibilizar acesso universal e gratuito (ou quase) para bens considerados essenciais, para a maioria da população: educação, saúde e justiça.
As reivindicações dos trabalhadores foram praticamente todas atendidas: os salários aumentaram, foi concedido o direito à greve, e criadas várias leis de protecção no emprego e no desemprego.
A liberdade de expressão foi totalmente implementada: acabou a censura nos meios de comunicação e as perseguições por motivos de opinião.
Foram também criadas todas as estruturas políticas e institucionais de um regime democrático e pluralista.
Quanto às relações com o exterior, em poucos meses se desencadeou todo o processo de descolonização de Timor-Leste e das colónias africanas, e iniciou-se o processo de adesão à CEE, naquela altura (e até recentemente) vista como a ponte para o desenvolvimento de Portugal, que o colocaria entre os mais desenvolvidos do mundo.
Também a abertura ao exterior permitiu a entrada de marcas, produtos, modas, comportamentos e atitudes que vigoravam nos restantes países da Europa Ocidental.

Os portugueses acreditaram que os seus sonhos de um futuro melhor quase perfeito estava finalmente prestes a realizar-se.

38 anos depois... o país que temos
Não fosse a última década, e eu teria ficado por aqui.
Estamos no dia 25 de Abril de 2012 e eis o cenário que está à nossa frente: um país totalmente endividado, a receber ajuda e intervenção estrangeira directas para resolver os seus problemas estruturais, como se fosse um país de terceiro mundo que só agora tivesse acordado para a vida.

Mas afinal o que se passou? Quem tem a culpa? Poderia ter sido de outra maneira?
É inegável o esforço de criação de um Estado Democrático e Social, dos mais generosos de toda a OCDE e onde mais se respeitam as liberdades e direitos individuais. As nossas leis e instituições de protecção do indivíduo e de garantia do seu bem-estar são muito mais perfeitas do que grande parte da população pensa. São das melhores de todo o mundo desenvolvido.
E os gastos dos sucessivos governos nestas matérias dão a entender que as prioridades estiveram sempre bem definidas e uma boa parte das decisões políticas foi bem tomada.

O único problema foi a altura e que isso aconteceu. Todo o desenvolvimento de Portugal deu-se durante décadas em que o país atravessou períodos de estagnação ou até recessão económicas, intercalados por breves períodos de algum crescimento económico.
O grande boom económico ocorreu entre a II Guerra Mundial e o início da primeira crise petrolífera.
Portugal teve taxas de crescimento comparáveis apenas à Espanha e aos países do Sudeste Asiático. Foram cerca de 30 anos de verdadeiro milagre económico que surpreendeu a Europa e todo o mundo. E por incrível que pareça, isso provocou algumas transformações substanciais na estrutura populacional portuguesa e nos seus hábitos e comportamentos. Também foi nesta altura que Portugal percebeu a importância de fazer parte do projecto europeu, ao ser um dos fundadores da EFTA em 1956.
Também se deu um esforço de alfabetização com a criação de milhares de escolas primárias pelo país, que hoje é difícil perceber este grande esforço.

Mas claro que o Estado Social continuava inexistente, a exemplo de todas as liberdades e garantias de bem-estar. E o problema da guerra colonial só veio piorar a situação.

Com a revolução, vieram épocas muito problemáticas para a economia portuguesa:
- a perda das colónias e de todos os recursos que Portugal de lá retirava (se bem que muito abaixo do seu potencial);
- a reestruturação económica e os pesados custos dos dois programas de ajustamento levados a cabo pelo FMI;
- a explosão salarial que aumentou consideravelmente os custos de produção;
- as crises internacionais que agravaram a economia portuguesa que estava muito mais exposta às oscilações da economia internacional;

Nada disto era terreno favorável para a criação do Estado Social e Democrático. Enquanto que as grandes potências da Europa Ocidental construíram as suas estruturas democráticas e sociais após a II Guerra Mundial quando apresentavam altas taxas de crescimento, Portugal só o fez na época de maiores problemas económicos.

Resultado: entre a II Guerra Mundial e o 25 de Abril Portugal convergiu para a média da Europa Ocidental apenas a nível económico, e a partir daí apenas convergiu do ponto de vista institucional (democrático e social), verificando-se até uma contínua divergência do ponto de vista económico com a média da Europa Ocidental.

E aqui estamos novamente a sonhar com um futuro melhor, se bem que desta vez com menos ideias sobre o que se pode resolver do que há 38 anos atrás. Parece que já não conseguimos fazer mais esforços... mas eles são precisos.
Aproveito para partilhar uma ideia mais patriótica: se olharmos para a nossa História menos recente, vemos que os nossos antepassados, que pisaram este mesmo território, foram verdadeiros exemplos de luta e triunfo na adversidade. Sempre fomos um país "continentalmente" pequeno, e com os recursos que temos, ninguém no seu perfeito juízo julgaria que seriam capazes de fazer tudo o que fizeram.
Isto é a prova de que o país vai para além da classe política, e que estamos a enfrentar mais um período que  só a união do povo português consegue ultrapassar.

E agora, fica aqui o filme que retrata essa data tão marcante (positiva ou negativamente) para nós.


                   

Sem comentários:

Enviar um comentário