Quem vai acompanhando as mensagens que eu vou postando aqui, certamente que se recorda do comentário que fiz sobre o corte no nível de rating feito pela Standard & Poor's a nove países da Área do Euro, e posteriormente a Egan Jones (que não aparece na imagem ao lado) ter descido a classificação da Alemanha.
Já naquela altura alertei para o abuso destas atitudes por parte das agências de rating, mas agora dedico a mensagem só a isso mesmo: ao pânico que continuam a lançar sobre os Estados e a economia internacional, e sobre a própria estrutura da União Europeia.
A descida do rating de vários países feita pela Standard & Poor's, provocou o espanto e o pânico não só dentro da União Europeia, como também um pouco por todo o mundo. De facto, este ataque para além de muito ousado (excessivamente ousado para alguns), que deixou no ar a possibilidade de mais penalizações no futuro que, agravam ainda mais a situação já de si precária de muitos dos países afectados pelos cortes, e provocaram uma divisão artifical dentro da própria União Europeia.
Estas acções das agências de rating reacenderam os velhos atritos entre os países do Norte da Europa, que se auto-proclamam detentores de uma economia saudável e robusta e que sustentam os países da Europa do Sul, que persistem em viver mergulhados nos seus problemas económicos, provocados por más governações.
No entanto, o mais revoltante no meio disto tudo, é o facto da Standard & Poor's, bem como as outras agências de rating, continuarem a intrometer-se onde não são chamadas e continuarem a apoiarem as suas decisões em razões que parecem cada vez mais rebuscadas. Apesar das medidas de austeridade que os países mais afectados pela crise continuam a implementar e dos resultados que começam a obter (sem contar obviamente com o caso especial da Grécia), que poderiam ser melhores se não continuassem quase todos presos num ciclo de constante recessão económica, do aumento dos fundos de resgate europeus e dos sinais de compreensão que são emitidos pela Alemanha e pelas instituições europeias, sobre os esforços dos países em dificuldades, as agências de rating continuam a tratar os países Ocidentais como se fossem países subdesenvolvidos.
E parece que os mercados continuam a dar demasiada importância à opinião das agências de rating. E pior do que isso, parece que estas opiniões (porque de facto não passam de isso, de opiniões que não têm nenhum carácter decisivo nem soberano sobre o assunto), está a influenciar a política e o próprio funcionamento da União Europeia. Sim porque as agências de rating (estas 3 são americanas), continuam a avaliar a Europa como se tivessem a avaliar os EUA e como se toda a economia mundial se tivesse comportar como a economia norte-americana: por isso é que, enquanto a Europa não se comportar como se comportam os EUA nesta situação, as agências de rating continuarão a castigar as classificações dos países europeus.
No entanto, um aspecto que está a agradar às agências de rating é o comportamento do Banco Central Europeu (BCE) que, está a seguir uma estratégia semelhante ao modelo norte-americano para evitar o afundamento dos países em dificuldades: o BCE está a comprar dívida aos países em maior dificuldade em enorme quantidade, permitindo-lhes também pedir elevados empréstimos a taxas de juro incrivelmente baixas. A manutenção da taxa de juro a 1% permite às empresas financiarem-se a baixo custo, relançarem a sua produção e assim criarem mais postos de trabalho.
Apenas isto parece estar a agradar às agências de rating. Mas não é o suficiente: para elas o modelo europeu deve aproximar-se cada vez mais do modelo norte-americano. Para isso a Europa devia procurar emitir moeda descontroladamente, desde que as condições o exigissem, para auxiliarem o sistema bancário, e aplicar políticas de relançamento orçamental, em vez de apoiar tanto a poupança dos agentes.
Infelizmente, parece que ainda não perceberam que a Europa é diferente dos EUA, e neste momento os EUA não são modelo nem exemplo para ninguém. O país também está completamente estrangulado por uma dívida pública de proporções gigantescas: e eles não têm um sistema social como o dos países da Zona Euro... o que ainda torna o seu endividamento mais estranho...
Neste momento as agências de rating têm desempenhado um papel para o qual não foram criadas, estão a receber demasiada importância para quem apenas tem por função emitir opiniões baseadas em critérios por eles próprios escolhidos, e estão a meter-se onde não são chamadas, esquecendo-se completamente do seu verdadeiro papel...
É preciso ser-se lixo para
se reconhecer outro lixo!!!

A Alemanha resiste como o único bom aluno (e tudo o que lhe acontece de mau é da responsabilidade dos outros membros que ela tem que trazer consigo por arrasto). A norte encontram-se os países mais "ajuizados" e que parecem resistir a tudo isto, visto terem sempre aplicado políticas adequadas e terem um total controlo e equilíbrio das suas contas públicos. Ao sul, encontram-se os países irresponsáveis vistos aos olhos dos vizinhos do Norte como preguiçosos e sem capacidade para fazerem nada correcto. E a Grécia está como um caso especial deste grupo, pois é vista como um dos factores que conduziram ao afundamento dos outros países do Sul.
No meio disto tudo, a França por mais que se queira colar à Alemanha, não deixa de estar numa situação intermédia entre a situação da Alemanha e dos países da Europa do Sul, estando infelizmente a aproximar-se dos segundos.
Neste momento estão a surgir dentro da Área Euro, dois "Euros": um para o Norte e outro para o Sul.
Quanto aos Governos Europeus, estes têm duas maneiras de reagir à actual situação: ou continuam a dar excessiva importância às agências de rating e continuam a basear-se apenas na frieza dos números para todas as suas políticas, ou decidem de uma vez deixar de estarem presas ao passado e reformam um sistema de avaliação completamente ultrapassado. Sim, porque este controlo por parte destas 3 agências de rating está completamente ultrapassado. Não basta emitir uma opinião e apresentar uma duas ou três (e às vezes nem são tantas) justificações para o ar. Deviam ser obrigadas a prestar contas das suas decisões e fundamentá-las convenientemente. Para não falar na necessidade de rever a escala de notação.
Se nada for feito, este "joguinho" estará para ficar e vai continuar a arrastar os os países, um a um sem esquecer ninguém. Talvez quando todos os países entrarem em bancarrota se deixe de acreditar nestas agências e se comece finalmente a pensar em alternativas.
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