O título do vídeo não é dos mais correctos "Como nasceu o dinheiro (capitalismo)". Dá a ideia de que o dinheiro surgiu para as economias capitalistas, quando elas na verdade são meras crianças comparadas com os séculos de existência do dinheiro (e existência de dinheiro consideramos aqui aquilo que muita gente associa ao dinheiro: moedas e notas. Neste caso, apenas moedas visto que as notas são bem mais recentes).
Numa altura em que aumentam os cépticos sobre o capitalismo, e começam a surgir movimentos e/ou grupos que defendem o fim do consumismo, e que conseguem viver quase sem, ou mesmo sem dinheiro, aqui está um vídeo que apresenta uma versão sobre a origem do dinheiro, e também sobre a origem do regime a quem muitas pessoas associam a ideia de ganância, de soberba, de riqueza desmesurada e de excessos.
Já todo o mundo, e ainda mais nós que vivemos no Ocidente, se apercebeu dos enormes defeitos deste regime que ainda há bem poucos anos, aquando da queda dos regimes comunistas na Europa de Leste, era apontado por muita gente como um regime perfeito, e que iria transformar o nosso mundo, num mundo desenvolvido, igualitário, em suma, onde todas as pessoas fossem felizes e estivessem completamente satisfeitas.
Claro que, para além de algum indivíduo que vivesse desvirtuado da realidade e que pudesse afirmar o contrário, nunca se acreditou que os regimes capitalistas levassem ao pleno emprego e evitassem as situações de pobreza e exclusão social. Mas isso era sempre visto como um mal necessário.
Além disso, quer políticos e governantes, quer as grandes figuras ligadas ao mundo empresarial e financeiro sempre iludiram as classes pobres com a ideia de que se trabalhassem e aceitassem as regras, mesmo que fossem injustas, mais tarde poderiam alcançar também o mesmo lugar que eles.
Mas algo mudou nos últimos anos. Por um lado, os Governos de uma maneira geral foram aumentando gradualmente a sua incompetência e o aumento dos meios de comunicação em número e capacidade de difusão acabam por conseguir sempre por trazer isso a descoberto. Por outro, as classes pobres acabaram por perceber que essa ideia de "trabalha e aguenta porque um dia podes ser como nós", não era mais do que uma mentira para deixar o povo calado e submisso. Claro que outros factores como a generalização da escolarização que permitiu às classes mais pobres terem acesso a muito mais informação, conduziu a esse ciclo de descontentamento, e fez tremer os pilares do sistema capitalista.
Actualmente está mais que visto que o paradigma capitalista actual não consegue mais ser sustentável.
Tendo o filme legendas em português e estando numa linguagem muito compreensiva, aproveito o resto da mensagem, não para falar sobre o capitalismo, mas sobre qual a ideologia económica para o Sistema-Mundo que pode suceder à corrente capitalista em vigor: o capitalismo liberal.
"O velho está a morrer e o novo não consegue nascer: no interregno, aparece uma enorme variedade de sintomas mórbidos".
Esta frase do comunista italiano Antonio Gramasci, poderia perfeitamente adaptar-se à actual realidade do nosso sistema-mundo.
As actuais crises soberanas são a prova viva que a actual concepção de capitalismo (o liberalismo) já tem os dias contados: não é mais sustentável. As velhas certezas sobre a segurança e o poder dos mercados estão a cair por terra. No entanto, o mundo encontra-se na fase em que "o novo não consegue nascer", e por isso o mundo agoniza com uma data de "sintomas mórbidos". Enquanto uma nova ideologia não aparece como dominante, tanto os países como as pessoas vão-se agarrando a qualquer ideologia que lhes afigure como uma solução para o actual problema que parece não ter fim.
Até aqui, a mensagem que nos era transmitida pelos dirigentes (políticos e económicos) um pouco por todo o mundo, mas sobretudo nos países ocidentais, era a ideia da necessidade de se promover o livre comércio entre nações e a total globalização da economia (por meio dos movimentos de integração económica, das organizações, dos acordos, da deslocalização das empresas, dos fluxos de investimento, das redes regionais em várias áreas, entre outros...), bem como a aceitação das desigualdades como forma de se poder crescer economicamente, ao mesmo tempo que se iludiam as classes mais pobres com a mensagem de que a aceitação das sua injusta condição poderia mais tarde ajudá-los a ascenderem a um nível de vida mais abastado. Mas os actuais escândalos financeiros, os problemas que o investimento e a deslocalização de empresas desenfreada, sem escrúpulos e sem qualquer preocupação ambiental ou com os trabalhadores tem provocado nos países menos desenvolvidos, e todas as manifestações que quase diariamente ocorrem por todo o mundo, demonstram que "o povo" deixou de acreditar nessas ilusões.
Neste momento as actuais concorrentes ao capitalismo de mercado, são as ideologias que sempre se opuseram a esta ideologia desde as últimas décadas do século XX:
- Populismo de direita;
- Social-Democracia Keynesiana;
- Libertarismo-Hayekiano;
- Anticapitalismo socialista;
Passo agora a fazer uma breve análise de cada uma destas possíveis candidatas a ideologia dominante.
Populismo de direita:
O populismo de direita é uma corrente ideológica que, para agrado de uns e profundo desagrado de outros, está a ganhar de volta enorme protagonismo na Europa e um pouco por todo o mundo. Na Holanda (Partido da Liberdade), na França (Frente Nacional) e na Itália (Liga Norte) estas ideologias têm já um peso mais ou menos significativo no contexto político e na opinião pública destes países.
Social-democracia keynesiana:
São os maiores opositores dos Hayekianos. Defendem acerrimamente que a chave para se estimular a economia é através dos gastos deficitários do Estado: o Estado deve por isso ser muito mais activo e expansivo.
Mas na Europa, os gastos excessivos do Estado têm sido apontados como o principal responsável pela actual situação crítica que estes países estão a atravessar. A solução passa pelos cortes na despesa e pelo aumento da receita.
E como reagem os sociais-democratas a este exemplo que parece contradizer aquilo que defendem? Defendendo mais regulamentação para o sector financeiro, recuperação do sector industrial e mais empenho no combate às desigualdades.
Libertarismo-Hayekiano:
Tem alguma sobreposição com o populismo de direita, mas os libertários possuem os seus próprios princípios.
Para eles, ao contrário dos keynesianos, a saída da crise não passa pela maior intervenção do Estado. Aliás, para eles é precisamente o contrário: a actual crise não se deve ao sistema capitalista em si, mas ao excesso de intervenção do Estado. Esta corrente de pensamento é mais seguida nos EUA do que propriamente na Europa.
Anticapitalismo socialista:
E por fala em EUA, os principais opositores do actual presidente Barack Obama, acusam-no de ser um presidente socialista. Talvez não chegue a esse extremo, mas a verdade é que a sua política tem mais conotações com a esquerda socialista do que os mais acérrimos defensores do capitalismo tipicamente americano poderiam desejar.
A verdade é que a maioria dos países do mundo já tem em conta nas suas agendas governativas, o problema da desigualdade social.
No entanto, a fraca credibilidade que os partidos de extrema-esquerda parecem ter em muitos destes países (devido à memória do fracasso do bloco Comunista), não tem ajudado a corrente socialista mais radical a se impor.
Mas, o crescente aumento do desemprego e dos problemas sociais no Ocidente, estão a fazer nascer uma corrente anticapitalista, cansada de viver sobre este regime que para eles só cria desigualdades. E ao contrário dos partidos que acabei de referir, estes estão já a ganhar muitos adeptos (desde os EUA até à China).
Qual será então a nova ideologia que se irá sobrepor ao capitalismo liberal?
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