O aviso era óbvio: caso a Grécia não receber um novo pacote de ajuda de 130 milhões de euros (este ainda não foi entregue e já há quem afirme que um terceiro pacote será inevitável) nos próximos dias, o país entrará inevitavelmente em bancarrota já em Março pois, deixaria inclusivé de ter dinheiro para pagar salários aos funcionários públicos, entre outras despesas correntes. A questão essencial até nem seria a bancarrota: um Estado que não consiga pagar as suas despesas correntes, nem sequer os salários aos funcionários públicos, continuará a ser um Estado por inteiro como até agora tem sido?
E para receber este novo pacote de ajuda financeira é necessário um acordo entre o partido do governo e os principais partidos da oposição, quanto à implementação de um novo pacote de austeridade, e entre o Governo e os credores privados.
Durante a semana de negociações a ameaça do incumprimento já no próximo mês foi uma presença forte e constante enquanto se elaborava o acordo.
Então isso quer dizer que o pior já passou? Que o país vai agora inverter a tendência de depressão que já se verifica há quatro anos (que tornou a Grécia o país da OCDE a viver de uma só vez o mais profundo e prolongado processo de ajustamento da história de todos os países membros)?
Não. Antes pelo contrário: o novo pacote de austeridade, necessário para receber o novo pacote de ajuda financeira, foi aprovado no parlamento, mas muito mal recebido nas ruas.
As manifestações e as greves sucedem-se como sinal do crescente descontentamento, o país que já está sufocado com tanta austeridade já aplicada, terá ainda pela frente mais austeridade: o pior ainda está para vir.
Já dei a entender noutras mensagens aqui postadas, que a culpa do que se passa na Grécia não é só dos gregos, mas também das grandes potências da União Europeia (que agora fazem de conta que não é nada com elas), mas é agora a altura de apontar os problemas do Estado grego.
Na outra mensagem que postei dedicada exclusivamente à Grécia, apresentei os dados que comprovam que o grande problema da Grécia é o Estado.
E é precisamente sobre o Estado que teoricamente deveriam recair as principais medidas e reformas exigidas pelas entidades ligadas ao empréstimo financeiro: reduzir gradualmente o número de funcionários públicos em 150mil entre 2011 e 2015, arrecadar uma receita de 2 milhões de euros com as privatizações, liberalizar as "profissões fechadas" (entre as quais as ditas 'profissões liberais') e reduzir tendencialmente os salários dos funcionários públicos.
Infelizmente não foi nada disto que aconteceu até agora: em vez da redução gradual do número de funcionários públicos, que implicaria a entrada de um funcionário por cada 5 trabalhadores despedidos, o Estado aumentou o número de trabalhadores dele dependentes em 200 mil; o programa de privatizações está completamente empatado, o que levou a que o Estado apenas arrecadasse 1/4 dos 2 milhões de receitas; a liberalização das "profissões fechadas" teima em não sair do papel, e os salários dos funcionários públicos sofreram cortes de 6% enquanto que no sector privado chegou em alguns casos a 30%; e até agora o Governo teimou em mão reduzir o salário mínimo.
Resumindo e concluindo: em vez de reformar a sua estrutura, a Grécia continuou a proteger o verdadeiro "monstro obsoleto" que é o seu Estado.
O problema da Grécia continua o mesmo de sempre: nunca aplica na prática aquilo que promete no papel.
Por isso, não só o Governo Grego, como outros governos europeus e até os próprios organismos da União Europeia começam a fazer estudos para analisar o impacto e as consequências de uma possível saída do euro por parte da Grécia.
A União Europeia e o mundo começam a preparar-se para um cada vez mais provável desmembramento do puzzle europeu que poderá não ficar-se apenas pela Grécia.
E o novo pacote não chegará para fazer a Europa e o mundo suspirar de alívio: a Grécia poderá criar todas as leis de austeridade possíveis e imagináveis, que isso não significará a resolução do problema, porque o problema da Grécia continuará a ser a não aplicação dessas leis.
E se ao fim deste tempo todo a Grécia não apresentou resultados satisfatórios (antes pelo contrário, manteve a máquina monstruosa e obsoleta de 14 ministérios, cada um com uma média de 439 departamentos e muitos deles apenas com o seu responsável, que constitui o Estado), nem dá sinais de querer mudar, os meros rumores de uma saída do euro, transformaram-se actualmente em cenários com alguma probabilidade de ocorrência e já seriamente considerados por Governos, entidades, ministros, e outras personalidades, tanto europeias como internacionais.
O mundo vai continuar a suspender a respiração para ver o que se sucede na Grécia nos próximos tempos. Neste momento tudo pode acontecer...
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