Suíça: os problemas de se ser perfeito
O Banco Nacional da Suíça tem feito todos os esforços para travar
a alucinante valorização do franco face ao euro e ao dólar.
Tudo na Suíça está a funcionar ao contrário da maioria dos seus vizinhos europeus: a economia cresce a um bom ritmo (cerca de 3% ao ano), o franco - a moeda oficial - cada vez se valoriza mais face ao euro e ao dólar (sendo actualmente a moeda mais sobrevalorizada do mundo), o país exporta 37% do que produz, os impostos continuam muito baixos, o desemprego está razoavelmente baixo (na ordem dos 3%) e o país atravessa já há alguns meses uma descida do nível geral de preços - deflação.
Tudo isto nos poderia levar a pensar que tudo está bem na Suíça, e por isso é menos um país com que o sistema económico mundial se tem que preocupar.
Pura ilusão!
Todas estas características da actual economia suíça constituem um rol de problemas gravíssimos que estão a levar a economia para um precipício. É que afinal, uma economia tão "perfeita" no coração de uma Europa doente, pode trazer graves consequências tanto para eles como para nós.
Tudo isto se resume à questão monetária. O país está a enriquecer a olhos vistos. Os suíços foram os novos ricos de 2011 em que, o crescente aumento do seu poder de compra, fez com enchessem os melhores restaurantes de Veneza e os saldos nas principais capitais europeias.
Claro que daqui podemos tiras duas conclusões. O país está a ficar cada vez mais rico, e se o problema é o excesso de dinheiro, então o Estado suíço pode resolvê-lo através da concessão de empréstimos para a Grécia, Portugal e outros países que tenham o problema oposto da Suíça.
Infelizmente as coisas não funcionam assim. O problema do excesso de dinheiro não reside propriamente no Estado (que a abono da verdade, mesmo tendo muito dinheiro, nesta época de crise um Estado nunca tem dinheiro a mais), mas sim nos privados, sobretudo nas empresas.
Empresas essas que, devido à continua valorização do franco face ao euro e ao dólar, decidiram pagar em euros os salários dos seus funcionários que trabalhem nos países vizinhos, pois estes funcionários tinham um crescimento do poder de compra em muitos casos na ordem dos dois dígitos (algo que actualmente é "surreal" na Europa). Outras empresas apostaram antes em fazer cortes drásticos nos salários.
Até a Organização Mundial de Saúde com sede em Genebra, está a dispensar 300 dos 2400 funcionários que tem no país, devido precisamente aos problemas da sobrevalorização do franco: é que 60% das receitas que a organização recebe são em dólares, mas paga os seus salários em francos suíços.
Também o sector do turismo, está a ser fortemente prejudicado por esta subida do valor do franco. É verdade que nunca foi barato viajar na Suíça (que tem cidades que se contam entre as cidades com mais alto custo de vida do mundo), mas também nunca foi tão caro como agora.
Também as exportações estão a ficar cada vez mais caras, o que será extremamente prejudicial para o sector.
A continuação deste fenómeno poderá levar, de acordo com associações deste sector, à extinção de 15 mil empregos na hotelaria e na indústria.
A sobrevalorização do franco está também a afectar o consumo. Apesar dos supermercados e outras lojas terem já descido os preços de milhares de produtos, a verdade é que até os lenços de papel continuam a custar o dobro do que custam noutros países europeus.
A nível de impostos, a Suíça foi sempre um dos países com impostos mais baixos do mundo, o que atraiu cerca de 180 sedes regionais de empresas estrangeiras (entre elas a Google e a Yahoo!). Mas, por aquilo que foi referido atrás, o país está a tornar-se menos atractivo ao ponto de algumas destas empresas ponderarem despedimentos colectivos ou mesmo a saída do país.
Mais do que nunca, a Suíça está a transformar-se no porquinho mealheiro da Europa, ao atrair cada vez mais depósitos estrangeiros.
O Banco Nacional da Suíça tem feito todos os esforços possíveis para travar a escalada do franco. Em Agosto do ano passado baixou a taxa Libor a 3 meses de 0.25% para quase 0%, injectou liquidez no mercado monetário e aumentou os depósitos dos bancos de 80 para 120 mil milhões de francos suíços.
O Banco pretende ainda continuar com operações de troca de moeda para criar liquidez no sistema financeiro (uma medida que não era utilizada desde 2008).
Apesar de todas as medias, o franco suíço continua a atingir recordes em comparação com o euro e o dólar. A crescente crise na zona euro e nos EUA não está a ajudar em nada, visto que isto está a aumentar a procura pelo franco.
No entanto, no último trimestre do ano passado já se começaram a produzir alguns efeitos desejáveis para a desvalorização do franco.
Obviamente que, sendo uma economia de Mercado, quando esta bolha rebentar mesmo, será uma questão de tempo até que a economia se volte a ajustar para uma situação de equilíbrio.
Os despedimentos em massa, vão fazer diminuir o custo de mão-de-obra, o que tem um efeito positivo na redução dos custos de produção. Isso vai atrair novamente as empresas para o país, e assim reduzir o desemprego.
Mas claro que esse processo de ajustamento demorará o seu tempo, e neste momento são já muitos os imigrantes (incluindo portugueses) que dormem nas ruas pois perderam os seus postos de trabalho devido ao elevado custo da mão-de-obra, que deixou de ser atractivo para as empresas se fixarem no país.
Islândia: quando o investimento estrangeiro é demais
Sede do parlamento na Islândia
Quando em 2008 a economia islandesa entrou em colapso, conduzindo o país à eminência da bancarrota, a produção de alumínio continuou como se nada se passasse. E assim permaneceu nos dois anos seguintes de dolorosa recessão, devido à procura estrangeira por este produto.
Antes de responder a estas questões, convém perceber um pouco o papel que a indústria tem vindo a adquirir na economia islandesa.
O facto do país ser rico em recursos hídricos (rios, quedas de água, fontes quentes e vulcões) permite-lhe produzir energia hidráulica ou geotérmica de uma forma mais limpa do que nos países que utilizam o carvão, e a preços muito competitivos.
Dois exemplos da abundância de recursos que atraem as empresas produtoras de alumínio.
Produção de energia geotérmica na Islândia
A primeira fábrica de alumínio foi instalada na Islândia há mais de 40 anos, mas até 2000 este sector nunca ultrapassou os 3% do PIB.
Mas tudo mudou quando o Governo, para atrair a indústria metalúrgica, aprovou a construção de duas novas instalações.
A partir daí a produção não tem parado de aumentar, representando actualmente cerca de 15% do PIB e, em 2008 o rendimento da indústria pesqueira deixou de ocupar o 1º lugar no valor das exportações pela 1ª vez na história do país, sendo substituída na liderança pelo rendimento das exportações de alumínio.
Se por um lado esta indústria está a valorizar os recursos energéticos "limpos" que o país tem, e o crescente investimento das empresas de alumínio estrangeiras tem permitido o relançamento da economia e a criação de emprego, por outro há quem alerte para os impactos nefastos para o ambiente local (a construção de barragens e de uma albufeira artificial como suporte às indústrias no leste do país está a acelerar o processo de erosão do solo e a colocar em perigo as populações locais de veados e de gansos de bico curto), e para o aumento da dependência externa pois, como no país não há filões de bauxite, toda esta matéria-prima tem que ser importada (maioritariamente dos EUA, Irlanda e Austrália).
Actualmente a indústria metalúrgica emprega 1400 trabalhadores mas, consome 5 vezes mais energia do que os 320 mil habitantes da ilha o que, tendo em conta que a produção utiliza o calor da terra, esta não consegue repô-lo à mesma velocidade que a outra o consome.
Por isto mesmo, há quem alerte para o facto da Islândia estar a 'crescer com pés de barro'.
Há também suspeitas de tratamento priveligiado destas indústrias por parte das autoridades do país.
Depois de analisar o peso e o papel desta indústria na economia do país, e de como ela está a dividir a sociedade islandesa, vou por fim apresentar as razões pelas quais esta indústria foi a responsável pela grave crise que este país atravessou em 2008, e que se pode voltar a repetir em breve.
O projecto de construção de uma fundição gigantesca no leste do país, propriedade do gigante norte-americano Alcoa, provocou a espiral financeira que levou o país à beira da ruína. Este empreendimento atraiu a atenção de muitos investidores estrangeiros que injectaram enormes quantidades de capital na ilha, o que permitiu um período de franco crescimento económico entre 2003 e 2008.
Infelizmente. todo este furor e optimismo levou a que os bancos islandeses começassem a investir e a emprestar sem reservas.
As taxas de juro aumentavam continuamente, à medida que as famílias e as empresas se envolviam numa crescente espiral de endividamento.
O valor da moeda nacional e dos bens imóveis disparou para valores muito altos.
Os bancos endividaram-se ao ponto da sua dívida ser dez vezes superior ao PIB nacional.
E a crise que em 2008 assolou a economia mundial teve inevitavelmente consequências muito graves neste país. É provável que, mesmo sem o investimento da Alcoa, o país mergulhasse naquela grave crise económica, mas a especulação e a excitação em torno deste projecto deram a sua "mãozinha" no meio disto tudo.
No entanto, esta empresa já tentou abrir outra unidade de produção no norte do país. As questões ambientais é que impediram (pelo menos para já) a sua concretização. Este entusiasmo poderá ter os dias contados visto que o actual Governo de esquerda não parece ser tão entusiasta desta indústria como o Governo anterior (que foi penalizado pelos eleitores devido à sua gestão da crise económica).
Aqui estão dois bons exemplos de que afinal não há nada perfeito neste mundo e que, ao contrário do que nós sempre fizemos, as épocas de crescimento económica e de grande riqueza, não devem ser alturas de se cruzar os braços e limitar-se a gozar a fartura!!!
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