quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Filho de Deus (I)

Aproveito o facto de hoje ter sido o último dia do Pontificado do Papa Bento XVI, algo que não acontecia há quase 600 anos na Igreja Católica: uma Papa renunciar. E que tem sido visto como muitos como um sinal da fraqueza que a Igreja Católica está a passar, e que tem sido reforçado pelos escândalos e as intrigas que têm sido anunciados pelos meios de comunicação social.

Mithras


A (falta) de originalidade do Cristianismo:

No Santuário, os fiéis adoravam e glorificavam o Redentor, Deus feito Homem, que nasceu de uma Virgem a 25 de Dezembro, que ascendeu ao Céu e que prometeu regressar no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos. Os sacerdotes, escolhidos de entre os fiéis e iniciados no conhecimento supremo desta religião, celebravam uma refeição simbólica de pão e vinho em honra do seu Redentor, que prometeu aos seus seguidores que, aquele que não tomasse parte no banquete, e não comesse a sua carne nem bebesse o seu sangue, não ressuscitaria e não seria salvo.

Quem ler este parágrafo deve certamente estar a pensar que eu me estou a referir a Jesus Cristo. Certo? Completamente errado!!!
Recuemos até ao território onde actualmente está a cidade do Vaticano, mas no período anterior a Cristo.
No local onde agora de situa a Basílica e a Praça de S. Pedro, existiu um Templo Pagão que a Igreja Católica tentou a todo o custo apagar os seus vestígios. Que cerimónias pagãs seriam lá celebradas? Sacrifícios horrendos? Orgias obscenas? Ou outras ideias que a Igreja associou sempre ao paganismo?
Nada disso. Nesse Santuário pagão, os fiéis adoravam e glorificavam como foi acima descrito, o seu Redentor chamado Mithras como eu descrevi acima.
O culto a Mithras surgiu na Pérsia e tornou-se o principal concorrente do cristianismo no Mundo Antigo. Muito provavelmente, se o cristianismo não tivesse triunfado, o mundo seria mithraísta.
Ele foi visto como Deus feito Homem que traz uma nova sabedoria e uma nova religião, desafia a autoridade estabelecida, e até há relatos de ter transformado água em vinho num casamento, morre por altura da Páscoa e ressuscita 3 dias depois.

Esta é certamente uma revelação chocante para muitas das pessoas que a lerem. Mas as revelações não ficam por aqui.
Avancemos um pouco no tempo até ao ano 313 d.C. É com o Édito de Milão que são definidos os pilares fundamentais da religião católica, incluindo a divindade da pessoa de Cristo. Jesus passa a ser chamado como o único Filho de Deus: tudo o que dissesse o contrário seria considerado herege e seria banido.
Mas, em 1945 surgem os Manuscritos do Mar Morto que contradizem aquilo que a Igreja sempre anunciou. Neles é possível encontrar a referência a "Filhos de Deus" como aqueles que atingiram o maior conhecimento.
Vários autores já realçaram as grandes diferenças entre o Jesus Histórico e aquele que a Igreja nos apresenta.

No mundo judaico, os verdadeiramente piedosos seriam chamados de 'Filhos de Deus'. No mundo pagão havia a mesma ideia. Mas, a designação 'Filho de Deus' ia para além dos piedosos e entendidos, e era utilizada também para quem detivesse o poder.
No entanto, de entre as inúmeras pessoas chamadas de Filhos de Deus, houve várias com as mesmas características associadas à vida de Jesus.

- Osíris:
 


Um Deus que apareceu na Terra como Homem e que trouxe grandes ensinamentos e um novo culto. É condenado à morte pelas forças do mal. Morre, volta à vida e sobe aos Céus onde será juíz das almas até ao fim dos Tempos.

- Alexandre Magno:



O grande Imperador que uniu o Mediterrâneo no Império Grego, era filho de uma mulher iniciada no culto do Deus pagão Dionísio, que afirmou que Alexandre era fruto de uma concepção Imaculada, e filho de Deus.

- Júlio César:


Filho de uma Deusa com linhagem divina, usou o título de Filho de Deus, que depois foi adoptado por todos os Imperadores que lhe seguiram.

- Dionísio:
 

Um Deus feito Homem, que foi crucificado pelos seus opositores, mas que ressuscitou. Em Dionísio, o Filho de Deus torna-se um Redentor.
Nas celebrações em sua memória, comia-se pão e bebia-se vinho, em honra da sua morte, ressurreição e ascensão ao céu.
Os grandes filósofos e pensadores da Antiguidade eram iniciados neste culto a Dionísio.

Filho ou Filhos de Deus?

No Novo Testamento, Jesus nunca se refere a si próprio como Filho de Deus. Em S. Marcos, Ele intitula-se como 'Filho do Homem'.
Ainda hoje os cristãos afirmam que Jesus veio trazer uma novidade ao mundo: tudo o que ele afirmava seria uma novidade. Será mesmo assim?

Paganismo vs Cristianismo

Comecemos pela Ressurreição: a grande novidade do cristianismo foi a vitória de Cristo sobre a morte. Cristo estaria morto mas voltou à vida. Ora, esta mesma crença era partilhada pelos egípicos - razão pela qual tinham tanto cuidado a preservar os defuntos. Todos os rituais depois da morte evidenciam que a religião egípcia era uma religião da 'vida depois da morte'.
Eles também acreditavam que depois da morte a alma comparecia no tribunal do último balanço. À frente dele está a porta que dá entrada para a Sala da Absoluta Verdade, onde está Osíris.
São enormes as semelhanças entre a História de Osíris e a História dos restantes Deuses do paganismo, e até de Jesus Cristo.

Reacção dos Cristãos

Como reagem os cristãos a estas semelhanças que tiram qualquer credibilidade àquilo em que eles acreditam e que defendem desde sempre?
Os cristãos positivistas primitivos, no qual se inclui o grupo chamado 'Padres da Igreja' utilizaram o argumento do plágio por antecipação. Segundo eles, o demónio sabendo o que iria acontecer no futuro, criou estes mitos falsos para confundir as pessoas, e assim quando Jesus chegasse, as pessoas não acreditariam e não seriam salvas.
Por outro lado ridicularizaram e inferiorizaram a cultura pagã de modo a mostrar que o cristianismo era superior e por isso iria triunfar. O próprio termo pagão, que significa 'habitante do campo' foi criado pelos cristãos para menosprezar os povos que tinham construídos as pirâmides, que tinham criado e desenvolvido a filosofia, o teatro e outras artes.
A espiritualidade pagã era muito rica e com muitas semelhanças com o cristianismo.
A própria designação de Bom Pastor atribuída a Jesus, já era usada para Athis na Grécia Antiga. Apesar da ideia de amar os inimigos ser um grande avanço face ao judaísmo, no paganismo há relatos de pessoas que seguiam esta linha de pensamento.

Monoteísmo vs Politeísmo




Nas religiões monoteístas, o politeísmo é visto como algo inferior e imperfeito. No entanto o politeísmo também acredita na existência de apenas um ser supremo, mas que assume várias faces ao contactar com o Homem porque a sua glória é tão grande que apenas uma cara não é suficiente para a representar. Deus é uma entidade demasiado complexa para os Homens a representarem e compreenderem com um só rosto.
Todas as religiões existiram para que os seus membros consigam ver como a realidade é na verdade, e ascender ao conhecimento supremo.

Todos os Homens celebram o cosmos e a vida: apenas o expressam numa linguagem de símbolos, crenças e ritos diferente.
Uma das formas de o celebrar é através do mito do 'Filho de Deus'.
Jesus, o Messias filho de uma virgem e Deus feito Homem, foi apenas um desses exemplos. Para os seguidores de Jesus, Ele foi o Messias que lhes ensinou a verdade mais profunda.

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