terça-feira, 15 de abril de 2014

Desafios para o cristianismo

No mês em que celebramos a Páscoa, a maior festa do calendário cristão, achei por bem dedicar este post a analisar quais penso que sejam os maiores desafios no presente para a Cristandade. Obviamente que, estando o cristianismo dividido em três principais religiões, catolicismo, ortodoxismo e protestantismo, existem algumas diferenças entre elas. No entanto, vou-me centrar naquilo que as une: a pessoa de Jesus Cristo e aos desafios que de uma maneira geral se colocam à religião cristã no geral.

O poder e a grandiosidade do Cristianismo
estão a ser postos em causa pela nossa sociedade actual

Evangelização e Re-evangelização

Um dos princípios básicos assumidos pelo cristianismo é a Missão: levar a palavra de Cristo a quem não a conhece e tentar converter (durante muitos séculos à força) quem ainda não tinha aderido ao cristianismo.
Nos séculos passados foi missão do cristianismo evangelizar e levar o Evangelho às terras descobertas desde o século XV: África, América, Oceania e algumas zonas da Ásia. Essa tarefa não está obviamente terminada. Existem ainda muitas regiões que não ouviram falar da palavra de Cristo. Ao anúncio do Evangelho se associa a ajuda ao desenvolvimento das comunidades locais e no apoio em defesa dos direitos humanos. De facto, os países do 3º mundo são o território perfeito para a tradicional Missão associada ao cristianismo nos últimos anos. Mas entretanto, desde a segunda metade do século XIX, como efeito da Revolução Industrial, mas com mais intensidade a partir da segunda Guerra Mundial, a Europa considerada o berço e centro do cristianismo começou a viver um forte período de descristianização pautado pelo crescente ateísmo e pela fé depositada na ciência e na tecnologia, e no próprio Homem.
Apesar do liberalismo religioso que vigora actualmente na Europa, a religião foi colocada em segundo plano, com o argumento da criação de um Estado Laico e baseado no Direito e na Democracia, e na igualdade de todos os cidadãos independentemente de qualquer diferença, incluindo a religião. Apesar de em alguns países o número de cidadãos que se dizem crentes e baptizados ser ainda relativamente elevado, sobretudo nos países do Sul da Europa, a verdade é que, quando se analisa a percentagem de cidadãos que têm uma prática dominical regular, a percentagem desce drasticamente.
Posto isto, concluímos que actualmente as Igrejas cristãs enfrentam duas importantes frentes de actuação potencialmente contraditórias. Por um lado, existe ainda um vasto caminho de Evangelização e Missão nos países de terceiro Mundo, e por outro uma Europa já evangelizada, mas que está a perder a sua identidade cristã e cada vez se identifica menos com os princípios cristãos. A religião é cada vez mais remetida para a vida privada e como algo completamente à parte da vida em sociedade.

Novos comportamentos e modos de vida

Se olharmos para o que tradicionalmente a Igreja apelida de bons costumes e analisarmos os costumes e hábitos das sociedades actuais, sobretudo nos países Ocidentais, vemos que as coincidências são quase inexistentes. Muitos foram os hábitos e comportamentos adoptados pela sociedade moderna que foram contrariando aquilo que era defendido pelo cristianismo. Desde o divórcio e co-habitação, ao aborto, à generalização do uso de métodos contraceptivos até mais recentemente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, tudo são hábitos que se foram ou estão a enraizar-se na sociedade humana, sobretudo na Ocidental, e que mostram a perda de influência do cristianismo na opinião pública e na esfera privada das pessoas.
Este de facto constitui um outro grande desafio para o cristianismo, pois a sociedade actual tem-se vindo a afastar dos preceitos cristãos. E a tendência será para tal se vir a acentuar. Os bons costumes foram substituídos pelos valores e hábitos concordantes com a forma como a sociedade actual funciona e como o Homem se projecta no mundo.

Escândalos e polémicas

Um dos temas quentes para o catolicismo e que foi bastante abordado pelos meios de comunicação social, foram os escândalos de pedofilia que, ocorreram um pouco por todo o mundo católico e que descredibilizaram a instituição Igreja.
Outro dos escândalos, que é bem transversal às principais Igrejas cristãs são os escândalos de corrupção financeira e branqueamento de capitais. Desde a Igreja católica até às pequenas Igrejas cristãs, todas têm sido ocasionalmente alvo de inspecções e auditorias, muitas delas com resultados que mancham a reputação destas Igrejas.
A par destes escândalos, está outro problema que afecta a essência do cristianismo. É verdade que a Bíblia não foi escrita de acordo com os rigores científicos actuais, para além do facto de ter sido escrita em línguas já não faladas, traduzidas posteriormente numa época que ainda não primava pelo rigor nessa área (as diferentes interpretações dadas aos livros sagrados foram um dos fortes motivos para o aparecimento de várias divisões no seio do cristianismo), acrescentando o facto de que o objectivo da Bíblia não ser o de constituir um livro ou enciclopédia histórica sobre a época em que os eventos lá relatados ocorreram.
Por isso mesmo, surgiram nos últimos anos teorias mais ou menos fundamentadas, mostrando que aquilo que o cristianismo defende como os seus princípios é afinal mentira. Tudo foi posto me causa: que a Virgem Maria afinal teve mais filhos, os irmãos de Jesus, que Jesus desposou Maria Madalena e que dela teve descendência, chegando ao extremo de afirmar que Jesus não ressuscitou, ou que nem sequer era o Messias enviado por Deus. Houve de facto várias histórias desviantes deste género ao longo dos séculos, mas que foram logo abafadas como sendo heresias. Mas o que parece torná-las mais fortes actualmente é não só a apresentação de fontes consideradas provas irrefutáveis dessas informações (como a descoberta de supostos erros de tradução ou o aparecimento de documentos antigos considerados por muitos especialistas como verídicos), como também o facto de o actual grande distanciamento das pessoas face à religião, torna-as por um lado mais receptivas a este tipo de afirmações polémicas, como por outro lado constituem um motivo que justifique o afastamento das pessoas da religião.
O cristianismo encontra também aqui uma forte área a intervir, tanto na criação de maior transparência no funcionamento das instituições de cada uma das Igrejas, bem como na procura de lidar com todas as teorias que se desviam daquilo que a Igreja tem vindo a afirmar desde o princípio.


Ao contrário do que muitos já afirmam, não acredito que o cristianismo desapareça de vez, mas caso os seus responsáveis não façam nada para inverter esta situação, o seu futuro em termos de fiéis está muito ameaçado. Cabe ao Cristianismo saber acompanhar e adaptar-se aos tempos modernos, visto que é uma religião fundada por Deus mas vivida pelos Homens.

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