quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Grécia: o melhor não será a bancarrota?

É oficial: nos hospitais de Atenas já começam a faltar aspirinas. Se isso se passa na capital, o que se passará com o resto do país?
A taxa de suicídio tem aumentado consideravelmente, mas as estatísticas estão subavaliadas. Sendo um país muito religioso, a Igreja Ortodoxa não celebra funerais no caso de suicídios, pelo que muitas mortes são feitas de forma a parecerem acidentes. Isto está a tornar-se comum entre empresários que, mesmo sem historial de doenças mentais se imolam na praça pública, como o demonstra a imagem que abertura desta mensagem...(o empresário nesta foto chama-se Apostolos Polyzonis). O desespero está a levar as pessoas a cometerem os actos mais irracionais e mais desumanos, quer sobre eles quer sobre os outros.
Todos os dias chegam às urgências pessoas até da classe média, que têm que ser internadas por subnutrição. E começam a ser comuns os casos de abandono de crianças em instituições pois os pais não têm dinheiro para os sustentar.

Mais um caso de internamento no hospital na Grécia, por subnutrição. 
Esta fotografia não parece ter sido tirada num país desenvolvido. 
A qualquer pessoa faz lembrar as catástrofes naturais ou as guerras num país subdesenvolvido.

Qualquer pessoa que ler isto associa a um país subdesenvolvido onde tenha rebentado recentemente alguma revolução, guerra ou alguma catástrofe natural. Mas a verdade é que isto se passa num dos países que faz parte dos grupo de países desenvolvidos, é membro da OCDE, na União Europeia e faz parte da Zona-Euro.
E todas estas notícias chocantes reflectem o que se passam com a economia. A recessão continua, com o PIB a contrair pelo 4º ano consecutivo. E a dívida total do país continua em níveis vertiginosos, estando actualmente em 160% do produto. Isto pode parecer muito mas, mesmo comparado com outros vizinhos da União Europeia não é.
O grande problema da Grécia é mesmo a dívida pública. Em meados do ano passado, os mais elevados valores de dívida total (que engloba a dívida do governo, das entidades financeiras, das empresas e das famílias), de acordo com o relatório "Debt and deleveraging" feito pelo McKinsey Global Institute (MGI), entre os países da União Europeia eram:
1º- Irlanda: 663% do PIB;
2º- Reino Unido: 507% do PIB;
3º- Espanha: 363% do PIB;
4º- Portugal: 356% do PIB;
5º- França: 346% do PIB;
6º- Itália: 314% do PIB;
7º- Alemanha: 278% do PIB;
8º- Grécia: 267% do PIB;

Se dividirmos este total por cada uma das entidades que compõe a dívida total, constatamos que apenas na dívida pública a Grécia é o país que apresenta piores resultados, chegando a ser a melhor no endividamento das instituições financeiras.

Estes valores estão disponíveis para o público e são do conhecimento de todos os governos. E aqui faço referência especial à Alemanha e à França que, parece que se esquecem destes valores e continuam a agir como se a "União Europeia" fosse um "Império económico Franco-Alemão".

As manifestações parecem ser já uma imagem de fundo na Grécia.

Quanto à aplicação e cumprimento do plano de austeridade resultante do acordo estabelecido com a troika, o governo continua a não conseguir apresentar resultados satisfatórios e continua sem conseguir chegar a um acordo com os privados sobre o perdão de parte da dívida.
Enquanto não houver acordo entre todos os partidos políticos, o país não recebe um novo pacote de 130 milhões de euros.
As previsões apontam para que o país entre em bancarrota já em Março. Para qualquer país da zona euro (e da União Europeia), isso seria o pior cenário. No entanto, perante este cenário de calamidade em que as pessoas morrem literalmente à fome e se imolam na via pública, para os próprios gregos, mais do que inevitável, será a melhor solução. Obviamente que não vão ficar melhor do que estão agora, mas pelo menos acaba a pressão. E como o povo diz "muitas vezes o melhor é começar do zero".
O mais chocante em tudo isto, é a passividade que os parentes mais ricos da zona euro se comportam perante esta calamidade social. Deixando de lado a questão puramente económica e financeira, o país está a precisar de ajuda humanitária para as situações de fome e pobreza extrema que estão a surgir todos os dias. Enquanto a Grécia (e os outros países na mesma situação como Portugal ou Espanha) interessava à Alemanha para esta fazer os seus investimentos, tudo era um 'mar de rosas'. A partir do momento em que o país deixou de ser atractivo, assistimos ao seu lento afundamento.
Quanto aos comentários que a Chanceler Alemã Angela Merkel fez recentemente na Conferência de Davos de que todos os países europeus deviam seguir o bom exemplo alemão, obviamente que isso nem é digno de ninguém o comentar. Apenas digo, que a Chanceler devia olhar pelo que traz por casa antes de sair com essas frases.

Um bom retrato da culpa que a União Europeia tem no meio disto tudo.

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