segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"WITH LOVE FROM S&P"

"WITH LOVE FROM S&P"
(Com amor da S&P)

A Área Euro foi recentemente varrida por um furacão chamado Standard & Poor's que não poupou quase ninguém nem sequer a França, ao ponto do principal opositor de Nicolas Sarkozy, o candidato do partido socialista às eleições que vão decorrer daqui a 100 dias, François Hollande ter afirmado que o facto da França ter perdido a notação máxima de 'AAA' vai enfraquecer a posição da França na Europa. E é a primeira vez desde que existem agências de rating que a França deixa de estar no mesmo lugar da Alemanha, que permanece com o triplo A, juntamente com mais três heróicos resistentes: A Holanda, o Luxemburgo e a Finlândia. Juntamente com a França, também a Áustria (cuja capital, Viena de Áustria, é actualmente a cidade do mundo com mais qualidade de vida) viu a sua notação cortada de 'AAA' para 'AA+'.

E se os franceses andam preocupados com as dificuldades que a França vai passar a enfrentar sempre que negociar com Bruxelas, o que dizer de Portugal que viu descer a sua notação 2 níveis logo de uma vez (também o Chipre, Espanha e Itália desceram dois níveis, permanecendo todos acima de Portugal) passando de 'BBB-' para 'BB'?

As consequências são óbvias e imediatas. Isto porque este corte arrasador sobre as dívidas de muitos dos países membros da União Europeia poderá penalizar o FEEF, se os "quatro resistentes" com notação 'AAA' não aumentarem a sua participação no fundo (sobretudo a Alemanha, de quem mais uma vez parece que tudo depende). Ora, o FEEF é um dos intervenientes na ajuda externa que Portugal pediu. Se o seu rating descer (actualmente está no nível 'AAA'), o nosso empréstimo certamente que nos sairá mais caro (juntamente com o empréstimo à Grécia e à Irlanda).

Além disso, a S&P não podia ter escolhido "melhor altura" para mostrar que anda por aí qual ave de rapina à procura de uma pobre ave que já esteja débil para acompanhar as outras, e que assim ainda mais débil vai ficar e ainda mais dificuldade vai ter em acompanhar o bando.
É que de acordo com os dados da Bloomberg, até Março deste ano 17 membros da União Europeia pretendem realizar um total de 117 leilões de dívida com o intuito de encontrar financiamento para pagarem um total de 441.7 mil milhões de euros aos seus financiadores (que corresponde a cerca de um terço dos 1.398 mil milhões de euros de responsabilidades que o Eurogrupo terá que enfrentar durante este ano).

Foi a isto que o país chegou?

Quanto a Portugal, até Março a República Portuguesa enfrenta o vencimento de três linhas de bilhetes de tesouro num valor de 10.732 milhões de euros. Para este efeito, está prevista a realização de 8 leilões de dívida de curto-prazo com o objectivo de se financiar entre 5000-6250 milhões de euros.
A prova de fogo vai ser esta 4ª-feira dia 18 quando Portugal realizar três leilões de dívida de curto-prazo.

No entanto, o plano de jogo tem que ser alterado porque as condições em que ele se vai realizar agravaram-se consideravelmente. Talvez não haja implicações para o leilão de 4ª-feira pois parece que o leilão relativo aos títulos de tesouro a 11 meses já está praticamente todo garantido.

O mais engraçado é que, apesar do sucesso dos leilões de dívida de Espanha e Itália na última semana e do ligeiro optimismo que o director do BCE conferiu na última reunião da autoridade monetária, nada pareceu ter importância na hora desta agência (que nem sequer é europeia, como nenhuma delas o é) cortar o rating a 9 países europeus, e deixar 16 com 'outlook negativo' (ou seja, sob observação com possível descida do seu rating).



Países que viram o seu rating descer na passada 6ª-feira dia 13 de Janeiro.

Para os especuladores é assim que as coisas funcionam: por mais boas (ou razoavelmente boas) notícias que possam surgir, agarram-se a uma má notícia como um bóia salva-vidas para aquilo que parece que eles agora gostam muito de fazer.
Mas o que é mais engraçado é a leveza com que muitas vezes estes cortes são feitos quando se fala de Estados. Estamos a falar de nações soberanas, as entidades que deveriam ter mais credibilidade e não ser tratadas apenas através da frieza dos números.

Mas o que é mesmo mais engraçado, é a incrível subjugação que praticamente todos os países do mundo (os que se sujeitam à avaliação de qualquer uma das três agências) parece ter sobre as decisões destas entidades. Acredito na competência e credibilidade de qualquer uma das agências, e nas qualificações de quem toma estas decisões, mas mais uma vez refiro: estamos a falar de Estados soberanos, e não de meros ajuntamentos de pessoas.

Todo este processo não passa de especulação, em que as agências de rating parecem brincar 'ao cão e ao gato' com os Estados, muitas vezes baixando mas deixando a ideia de que tudo está em aberto para uma subida em breve.
A especulação foi um dos problemas que fez com que o Japão não se tornasse a grande potência económica deste século, levando ao fim do milagre japonês, e parece que está a fazer o mesmo à Europa.
Países que permanecem com a notação máxima de 'AAA'.

Resta aos Estados decidirem qual a posição que vão assumir, e qual a posição que deixam as agências de rating assumirem no meio disto tudo.

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